Uma das figuras mais icônicas dos games está de volta nesse Metroidvania criativo, ousado e “inflado”
Se você não estava preso numa ilha deserta ou isolado em uma caverna nas últimas 4 décadas, certamente já ouviu falar do icônico Pac Man – aquela criaturinha amarela, redonda e faminta que come bolinhas através de um labirinto enquanto escapa de fantasmas. Um sucesso dos arcades e simplesmente um dos games mais populares e mais amados de todos os tempos. E agora, em 2025, ano em que o lançamento do primeiro jogo completa 45 anos, a Bandai Namco resolveu inovar e trazer um Pac Man como nunca vimos antes, adaptando-o de forma criativa pra um gênero amado por muitos jogadores.
Shadow Labyrinth é um metroidvania Sci-fi que apresenta uma versão sombria e sinistra do PAC Man, em um jogo de ação fantástico com belíssimos visuais, uma narrativa envolvente e uma jogabilidade moderna, mas que também abraça o clássico. Foram 52 horas de jogo, que começaram bem, mas que não seguiram o mesmo ritmo até o final. Grandioso em muitos momentos, o jogo também causa algumas frustrações, ao tentar ser mais do que o necessário. E vamos discutir sobre tudo isso nos próximos parágrafos.

Em Shadow Labyrinth assumimos o papel do Espadachim Número 8. Nós acordamos num planeta desolado ao lado de PUCK, um misterioso robô, redondo e amarelo que precisa de ajuda em sua missão e será nosso guia durante a jornada. A história é envolvente e desperta curiosidade, graças à condução narrativa, que nos mantém conectados e interessados com o game, querendo jogar mais e descobrir cada vez mais sobre os segredos de PUCk e os mistérios do Planeta. Não quero entrar muito em detalhes, porque todo esse mistério é proposital pra narrativa e pra história contada. Mas basicamente, estamos no meio de uma guerra Galáctica de proporções épicas, com referências a muitos outros jogos clássicos da Bandai que convergem num mesmo universo, como Bosconian, Galaga e Ace Combat 3.
Os personagens são bem desenvolvidos, e eu gostei muito do próprio PUCk, que mesmo sem rosto e com apenas uma boca, consegue transmitir pra gente a sua personalidade, suas intenções e suas motivações. Toda a construção de mundo e de seus habitantes é cuidadosamente explorada e, embora complexa, com muito nomes e siglas, não atrapalha a compreensão da trama.
Vou começar essa análise falando do que eu mais gostei no jogo, a sua direção de arte. Shadow Labyrinth tem um visual belíssimo, que me lembrou bastante de Ender Lilies e Ender Magnolia, com a diferença de que a série Ender é desenhada à mão, e acho que tem um pouco mais de polimento e atenção aos detalhes. Os elementos em destaque, como o nosso personagem, os inimigos e tudo em que está em primeiro plano parecem mais bonitos do que o fundo do ambiente, que às vezes parece meio embaçado, mas nunca sem vida. Mesmo assim, achei os cenários bem acabados, com ambientes às vezes vibrantes e coloridos e às vezes sombrios e melancólicos. Essa dicotomia reflete bem um mundo pós apocalíptico e sombrio que, mesmo devastado pela guerra, ainda mantém parte da sua beleza selvagem e natural preservada.
O som claro, é um elemento que ajuda a compor e dar vida à esse clima, e em títulos como esse, são um show à parte. A trilha é boa e remete aos clássicos de antigamente, aquelas composições bem marcantes dos jogos arcades, e meu destaque aqui vai pra música do Menu e também pras músicas dos labirintos. Em alguns momentos, não existe música de fundo, e escutamos apenas os passos do personagem e o sons ambientes, como o cantar dos pássaros e o som de quedas d’água, nos deixando mais imersos àquele universo.


Shadow Labyrinth tem uma jogabilidade fluida e que responde bem aos comandos. É um clássico Metroidvania com exploração profunda e um combate bem gostoso de jogar. O grande diferencial está nas mecânicas que ele apresenta, como se transformar em um Mecha e também no clássico PAC Man.
A transformação em robô Gigante é obtida logo no começo após derrotarmos o terceiro chefe, e ela é usada tanto pra exploração quanto pro combate. Durante o uso, uma barra chamada barra PD aparece ao lado do ícone do Mecha, e ela vai diminuindo conforme o tempo vai passando e conforme tomamos dano. Essa forma é uma ótima alternativa contra chefes, e durante a exploração, ela nos permite andar sobre espinhos, além de empurrar e quebrar objetos que estão no caminho.
Já a forma de PAC Man pode ser usada sempre que encontrarmos trilhos no cenário, que são chamados de Fiação D. Em alguns momentos, é preciso usar essa forma pra avançar na história, mas ela também é usada pra descobrir segredos e abrir atalhos. Eu achei uma mecânica divertida, além de ser uma baita homenagem à franquia, mas achei que ela foi usada de maneira excessiva e algumas vezes desnecessárias, com usos prolongados quando podia ser mais simples e direta.


Mas se é homenagem que você quer ver de verdade, então você vai se surpreender com os labirintos do jogo, que nos transportam pra uma dimensão na qual de fato jogamos o clássico jogo do Pac Man, comendo as bolinhas e escapando dos fantasmas. Terminar esses labirintos nos garantem boas recompensas que irão nos ajudar durante a nossa jornada, e já adianto que é algo viciante.

O combate é simples e a dificuldade dos desafios vai aumentando conforme avançamos claro, mas curva de aprendizado é bem tranquila. Usamos uma espada pra ataques básicos e temos à nossa disposição habilidades defensivas como escudo defletor e parry, bem como habilidades PPE, como ataques à longa distância e granadas, que podem ser compradas e escolhidas através de um menu radial. As habilidades de exploração, como gancho, pulo duplo e dash no ar são desbloqueadas ao longo da campanha, à medida que vamos derrotando chefes e devorando seus corpos pra assimilar seus poderes. No entanto, muitas dessas habilidades de travessia são obtidas muitas horas depois do início do jogo, atrasando a exploração.
E por falar em chefes, as lutas são bem legais, mas nada de outro mundo. Nada do que não tenhamos vistos em outros Metroidvanias. Quanto aos inimigos normais, da pra perceber um trabalho de reskin pra aumentar a diversidade, mas não achei que chega a ser um problema. E graças à mecanica de devorar do Mecha, que pode ser usado na forma do espadachim, cada inimigo oferece um tipo diferente de material ao serem consumidos, e esses materiais são muito importantes pra obtenção de itens e vantagens. E como o jogo tem um sistema de dia e noite, que pode ser notado nas áreas abertas do mapa, alguns inimigos aparecem só em determinados períodos, tornando a obtenção desses materiais mais raros.

Todo bom metroidviania precisa oferecer uma boa exploração, né? Está em seu DNA. E tem muita coisa pra explorar em Shadow Labyrinth. Às vezes, até demais. O mapa é vasto e denso, dividido em muitas regiões, interligadas em uma rede de caminhos e atalhos que podem te deixar facilmente perdido, como um verdadeiro labirinto. Isso não quer dizer que o level design seja ruim. Mas, qualidades à parte, confesso que me incomodei um pouco com a repetição de alguns cenários. Algumas regiões são exageradamente muito grandes, com salas vazias e repetição excessiva de inimigos. É algo que me causou fadiga e uma certa frustração, quebrando um pouco o ritmo do jogo pela primeira vez. O problema não é nem o tamanho das áreas em si, mas sim o aproveitamento dessas regiões. Não tem sentido colocar áreas tão grandes e inflar o mapa com salas vazias e “dead ends”. Nesse ponto, Shadow Labyrinth acabou pecando por excesso e perdeu a oportunidade de ir direto ao ponto, como em Ender Magnolia ou Blasphemous, por exemplo.
Quanto à progressão do personagem, não é um sistema de RPG. É um jogo que se afasta dos elementos Souls e abraça mais a ação e o arcade, onde sentimos a evolução mais natural do personagem através das habilidades desbloqueadas, das vantagens adquiridas e do aumento da barrinha de vida, stamina e do poder da nossa Espada PPE. Pra isso, as bolinhas amarelas chamadas Oras são essenciais. Elas são a moeda do jogo, como as almas do jogos souls, e são deixadas por inimigos mortos e encontradas na Fiação D. Elas podem ser trocadas não só por vantagens, mas também por itens e até informações com NPCs, que irão nos ajudar em nossa jornada. Infelizmente, essa progresssão funciona bem somente até certo ponto. Lá pras 20 e tantas horas de jogatina, eu notei mais um problema no jogo: a evolução do personagem simplesmente estagnou por falta de materiais, tornando o progresso cada vez mais difícil. Fui levando mesmo assim, embalado pela curiosidade em terminar a história. Mas quando cheguei no chefe final, eu percebi que não ia dar conta se não fizesse horas e horas de backtracking pra aprimorar meu personagem. Aqui, eu senti o ritmo do jogo quebrar pela segunda vez. Eu cheguei no chefe final com um pouco mais de 30 horas de jogo, e precisei explorar por mais 20 em busca de melhorias pra ter mais chances de vitória. Felizmente, o final foi competente e compensou a frustração de horas de exploração!

No fim das contas e com os problemas à parte, Shadow Labyrinth é criativo e ao mesmo tempo ousado por reimaginar uma figura tão marcante nos games, entregando uma experiência única e nostálgica com tantas referências e homenagens. Tudo o que amamos em bons metroidvanias está presente: Uma boa trilha sonora, uma estética belíssima e um combate fluido e dinâmico. Infelizmente, algumas regiões são desnecessariamente grandes e cansativas e podem ser frustrantes, mas, mesmo assim, é muito satisfatório explorar e descobrir os segredos do planeta e seus habitantes. O jogo está disponível pra PC, Xbox Series S/X, Playstation 5 e Nintendo Switch 1 e 2.
Nota: 🔥🔥🔥🧯🧯