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Obrigação de se tornar um live service, trocas constantes de gestão, conflitos entre equipes. O que causou o fracasso de Dragon Age: The Veilguard

O famoso jornalista Jason Schreier divulgou uma matéria especial para a Bloomberg em que relata, baseado em dezenas de entrevistas, os acontecimentos que culminaram no fracasso que foi o lançamento de Dragon Age: The Veilguard e o papel da EA em decisões questionáveis e má gestão do projeto.

O início da matéria relata que a Bioware e EA estavam até otimistas com o lançamento com base nas vendas iniciais que pareciam promissoras e as análises do jogo eram majoritariamente positivas.

Remontando o histórico de envolvimento das duas empresas mencionadas no conteúdo, é importante lembrar que em 2007, EA compra Bioware no intuito de diversificar seu catálogo de jogos e em 2014 acontece o primeiro lançamento da franquia Dragon Age sob a tutela da EA, justamente o Inquisition que é um sucesso indiscutível, com dezenas de milhões de cópias vendidas e eleito o Jogo Do Ano na ocasião.

Após o enorme sucesso de Inquisition, a equipe então começa a pensar no sucessor, mas são direcionados pela EA para trabalhar em um novo jogo da série Mass Effect, que viria a ser o Andrômeda que foi absolutamente mal recebido pela crítica e pelo público.

Com o fracasso de Mass Effect, o CEO da Bioware se afasta do cargo, sendo substituído por alguém que vem diretamente da EA e a primeira grande decisão é criar um jogo como serviço para ser uma fonte recorrente de renda, que seria Anthem.

Com Anthem ainda em desenvolvimento, em 2017, a EA insiste no erro e decide que o próximo Dragon Age precisaria ser um live service, algo que a equipe discordava frontalmente, inclusive por admitirem não saber fazer esse tipo de game e porque o que já havia do projeto teria que ser refeito do zero, pois todo o conceito havia sido pensado para uma experiência single player, como os demais títulos da franquia.

Enquanto Anthem estava nos estágios finais de desenvolvimento, a equipe de Dragon Age trabalhava no novo game multiplayer que a EA exigiu.

Em 2019 Anthem é lançado e o resultado a gente já conhece. Um título que falhou em tudo o que se propôs, tanto em ser um live service quanto em ser um título com a identidade Bioware, sem as boas histórias e os elementos de RPG que tornaram o estúdio famoso.

O desenvolvimento do Dragon Age multiplayer continuou até 2020 e durante a pandemia, os responsáveis pela Bioware e por Dragon Age se resignam e quem assume resolve trazer o jogo novamente para um título tradicional da franquia e a EA aceita.

Porém, ao invés de recomeçar o projeto do zero, como deveria ser, a exigência da EA é que o game seja finalizado no prazo de apenas 18 meses, o que impedia a realização de etapas de pré-produção em que o game teria seu novo conceito formulado, ou seja, foi necessário reaproveitar o que havia sido feito para o projeto multiplayer.

O lançamento acabou sendo adiado, como era inevitável, e em 2022 algumas cópias de uma build interna foram enviadas para pessoas testarem o game e compartilharem seus feedbacks, prática comum na indústria.

E, no geral, o comentário foi que havia falta de escolhas verdadeiramente impactantes naquela versão do game, algo que sempre fez parte do DNA da Bioware.

Em razão disso, o jogo foi adiado novamente, mas havia uma dificuldade em incluir tais decisões no game, pois a sua estrutura que era de um live-service não permitia muita margem para esses ajustes, principalmente porque não haveriam mortes de personagens importantes na versão on-line , já eles precisariam estar sempre disponíveis para os novos jogadores.

Com o jogo, a essa altura, atrasado em alguns anos a Bioware designou a equipe que trabalhava no novo Mass Effect para ajudar a finalizar o Veilguard, porém, isso se mostrou mais um erro com o passar do tempo, já que esses times sempre foram antagônicos, inclusive sendo tratados como piratas (os desenvolvedores de Dragon Age, pela falta de disciplina) e astronautas (a equipe de Mass Effect, que trabalhava muito bem com processos). Eventualmente, o time de Mass Effect que deveria ser apenas um suporte passou de apenas colaboradores para criarem cenas imprescindíveis do game, como o excelente final.

Uma nova rodada de testes acontece e o feedback principal é que o tom do jogo se distanciava da seriedade da franquia, não parecendo um título de Dark Fantasy como sempre foi.

Até que o lançamento acontece, e a gente já sabe o resto da história.

A recepção foi mista, com alguns bons elogios e muitas justas críticas, The Veilguard é um bom jogo, mas um mau Dragon Age.

Agora resta a incerteza sobre o futuro da Bioware. Caso o próximo Mass Effect não seja absolutamente aclamado, é esperado que o lendário estúdio não tenha vida longa, principalmente porque a EA não precisa da Bioware, já que apenas 5% do seu faturamento vem do estúdio, porém, é dito por Schreier que ela entende que, apesar da complexidade de desenvolvimento, jogos sjngle-player tem seu valor e podem gerar muito lucro, quando bem-sucedidos.

Resta torcer por dias melhores para a franquia, para a Bioware, para a EA e para a indústria como um todo, que insiste no erro de buscar o live service para chamar de seu e ainda alocando estúdios sem qualquer know-how para executar uma tarefa a qual não possuem qualquer experiência, vide a EA com a Bioware ou, mais recentemente, a Warner com a Rocksteady.

Produtor de Conteúdo
Sou um RPGista desde a infância e criador de conteúdo que vive pelo lema: quanto mais desafiador o jogo, mais divertido. Desde 2020, produzi quase mil vídeos testando minhas habilidades, e toda essa experiência me trouxe até a 'grande fogueira'

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