Depois de elogiar o jogo por quase todo o texto, o autor decide reduzir a nota por causa do uso de IA, e transforma uma boa análise em militância disfarçada.
Li o review publicado pela Eurogamer sobre Arc Raiders, escrito por um autor que claramente ficou dividido entre o jogador encantado e o militante de internet. O texto começa como uma das análises mais empolgadas do ano, como ele elogiando o design, a ambientação, as interações espontâneas entre jogadores e o clima de tensão e camaradagem que o jogo cria. Ele descreve encontros incríveis, fala sobre a genialidade dos robôs, o equilíbrio entre combate e cooperação, e o quanto Arc Raiders é um dos jogos mais envolventes da temporada. Mas, quando chega ao fim, ele muda o tom e decide dar uma nota baixa porque a Embark usou IA nas vozes dos NPCs.
Estou como mais de 40 horas no game. Já vivi batalhas insanas, encontros aleatórios com outros jogadores, momentos de pura adrenalina e outros de cooperação improvável, e, honestamente, isso é o que define Arc Raiders. É um jogo com identidade, que te prende pela tensão constante, pela ambientação e pela forma como tudo parece orgânico. O uso de IA em vozes não muda absolutamente nada disso. É um detalhe técnico, não um fator que destrói a experiência.

Mas o review da Eurogamer trata esse ponto como uma questão moral. O autor escreve que “sentiu vontade de gritar” porque o jogo fala sobre humanos sendo substituídos por robôs, enquanto a Embark, segundo ele, “substitui humanos por IA” no desenvolvimento. Esse tipo de leitura forçada transforma uma boa análise em um panfleto disfarçado. O que poderia ser uma crítica equilibrada sobre ética na indústria vira uma indignação pessoal, completamente desconectada da experiência real de quem está jogando.
O problema é que, ao fazer isso, o autor invalida tudo o que elogiou antes. Ele chama Arc Raiders de o maior jogo do outono, diz que é um fenômeno cultural e que cria uma das comunidades mais humanas que já viu, e logo depois diz que não pode recomendá-lo. Tudo porque não aceita a forma como o estúdio decidiu implementar tecnologia de apoio na produção. É uma contradição gritante, que mostra como parte da crítica moderna tem dificuldade em separar produto de ideologia.
A verdade é que Arc Raiders funciona porque é um jogo divertido, bem-feito e diferente. Ele entrega o que promete e vai além. Tem combate tenso, exploração, um ciclo de progressão viciante e momentos que ficam na memória, não atoa a internet está inundada deles. O review da Eurogamer é um retrato de uma parte da imprensa que parece ter esquecido o papel principal de uma análise: avaliar o jogo pelo que ele é, não pelo que o autor gostaria que fosse. Quando alguém transforma um detalhe técnico em um motivo para “não recomendar” um dos jogos mais elogiados do ano, o problema não está no jogo, está na lente ideológica e militante. Arc Raiders é um jogo feito para ser jogado, não dissecado por moralismo. Ele não precisa de defesa, porque quem joga entende. O que ele oferece é algo que poucos jogos hoje conseguem: um equilíbrio entre caos e cooperação, solidão e comunidade. E isso é algo que nenhuma IA, nenhuma militância e nenhuma crítica forçada conseguem tirar.
Arc Raiders é um jogo feito para ser jogado, não dissecado por moralismo.

