Circula um forte rumor que a Ubisoft teria cancelado um projeto da saga Assassin’s Creed que seria ambientado no período pós-Guerra Civil Americana.
É crucial sublinhar que esta informação não foi confirmada oficialmente pela Ubisoft.
Segundo rumores, o jogo estaria numa fase inicial de desenvolvimento no estúdio Ubisoft Quebec e exploraria a complexa Era da Reconstrução dos Estados Unidos. A narrativa, segundo as fontes da reportagem, seria centrada num protagonista negro, um ex-escravo do Sul, que se juntaria à Irmandade dos Assassinos para combater a organização supremacista branca Ku Klux Klan. A história abordaria temas de alta sensibilidade, como a violência racial, a luta pelos direitos dos recém-libertos e as turbulentas consequências do assassinato de Abraham Lincoln.

A razão apontada pelo rumor para o cancelamento, que teria ocorrido em julho de 2024, seria a crescente preocupação da gestão da Ubisoft com o clima político cada vez mais tenso e polarizado nos Estados Unidos. A reação negativa e por vezes extremista à revelação de Yasuke, o samurai negro histórico que é co-protagonista de Assassin’s Creed Shadows, teria sido um fator decisivo. Fontes citadas na reportagem da IGN afirmam que a Ubisoft considerou o projeto “demasiado político para um país demasiado instável”.

Se este rumor for verdadeiro, a decisão da Ubisoft contrasta com a abordagem de outros títulos, como o aclamado Red Dead Redemption 2. Embora também ambientado numa era de grande tensão racial, o jogo da Rockstar Games abordou o racismo de forma mais indireta, através de encontros com a KKK, diálogos e a representação de famílias sulistas em decadência após a abolição da escravatura. A Rockstar teve a coragem de não ignorar completamente estes temas, mas a proposta do Assassin’s Creed cancelado, segundo o que foi reportado, parecia visar um mergulho muito mais direto e desafiador nestas feridas históricas.

Este episódio, mesmo sendo um rumor, lança um debate importante sobre o cenário político atual e o seu impacto na indústria dos videojogos. A ascensão de movimentos de extrema-direita nos EUA e noutros locais tem fomentado um ambiente de intolerância que intimida a criação de narrativas que desafiam perspetivas hegemónicas. Uma minoria vocal, mas muito ativa, de jogadores com visões extremistas, pode criar uma perceção de risco financeiro para as empresas, levando-as a uma potencial autocensura.
O perigo desta tendência para o mercado é a perda de diversidade e a estagnação criativa. Se as empresas começarem a evitar temas “polémicos” por medo de reações adversas, o potencial dos videojogos como forma de arte e expressão cultural fica severamente limitado. Para a sociedade, as consequências são ainda mais preocupantes. A cultura, incluindo os jogos, é uma ferramenta poderosa para gerar empatia e debate. Ao recuar perante temas difíceis, a indústria perde a oportunidade de contribuir para conversas importantes. A possibilidade de a Ubisoft ter tomado esta decisão, embora por enquanto não confirmada, serve como um alerta preocupante de como o medo e a polarização podem ameaçar a coragem criativa.