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Do FOMO ao Custo Irrecuperável: Como as grandes corporações manipulam você

Como as grandes corporações manipulam você…

Nós que gostamos de games com certeza já ouvimos o termo FOMO alguma vez pipocando em nossas telas. A sigla para “fear of missing out” ou “medo de ficar de fora”, em uma tradução livre, se refere a uma estratégia de manipulação psicológica criada para nos causar uma falsa sensação de escassez e urgência. Assim, aceitamos melhor, sem muito questionar, o que nos é ofertado — por medo de ficarmos de fora do grande hype do momento.

Mas essa não é a única jogada psicológica que as grandes corporações dispõem para manipular nossos receptores de dopamina e o sistema de recompensas do cérebro.

Empresas como EA, Activision Blizzard e Ubisoft — para citar apenas algumas — vêm utilizando sistematicamente tanto o FOMO quanto a chamada“falácia do custo irrecuperável” para prender emocionalmente os jogadores a seus produtos.

O FOMO como ferramenta central de engajamento

Eventos por tempo limitado, recompensas sazonais e itens cosméticos exclusivos são alguns dos exemplos mais visíveis de FOMO em jogos live service como Fortnite, Call of Duty: Warzone e Destiny 2. A pressão psicológica funciona assim: se você não jogar agora, se não gastar agora, se não logar diariamente, perderá algo que nunca mais poderá obter.

No caso de Fortnite, por exemplo, o rodízio constante de skins e colaborações com grandes franquias — como Star Wars, Marvel e Dragon Ball — criam uma falsa percepção de raridade. A consequência? Um impulso imediato de compra baseado no medo da perda, não no desejo real de consumo.

Um estudo publicado no Journal of Consumer Psychology (2016) apontou que o FOMO ativa o mesmo circuito cerebral do medo social — o mesmo que sentimos ao sermos excluídos de grupos ou experiências compartilhadas. Para os jogos multiplayer, que já operam com base em comunidades e status digital, isso representa uma ferramenta de engajamento poderosa, mas também eticamente duvidosa.

A armadilha do custo irrecuperável

Além do medo de perder, as grandes publishers também se aproveitam da falácia do custo irrecuperável (sunk cost fallacy). Essa armadilha mental nos leva a continuar investindo tempo ou dinheiro em algo apenas porque já investimos demais anteriormente — mesmo que a experiência atual não valha mais a pena.

Jogos como Genshin Impact, FIFA Ultimate Team ou Diablo Immortal exemplificam bem esse mecanismo. Após gastar dezenas ou centenas de reais (ou horas) acumulando personagens, cartas ou equipamentos, muitos jogadores continuam investindo apenas para “não jogar tudo fora”. Esse comprometimento irracional gera um ciclo de dependência emocional e financeira.

Segundo pesquisa da Universidade de Nottingham (2019), jogadores que se sentem emocionalmente comprometidos com seus avatares ou progressão têm 3 vezes mais chance de gastar dinheiro em microtransações, mesmo quando não estão satisfeitos com o jogo em si. Esse ciclo é agravado pela estrutura de recompensas intermitentes e pela ausência de garantias claras de retorno.

A “gamificação” da exploração

O uso combinado de FOMO e custo irrecuperável leva à chamada “gamificação da exploração emocional”, onde sistemas que deveriam gerar diversão são desenhados para simular vício. Muitas dessas práticas, segundo a UK Gambling Commission e a Federal Trade Commission dos EUA, se aproximam de técnicas aplicadas por cassinos — especialmente no caso de loot boxes e gacha systems.

O que podemos fazer a respeito?

Como consumidores, o primeiro passo é a consciência crítica. Identificar essas práticas — como o uso de FOMO e da falácia do custo irrecuperável — e questionar nossos impulsos de compra é uma forma de resistência ativa.

Mais importante ainda, é lembrar que nosso poder está na carteira. Se as grandes corporações monetizam nosso tempo e atenção, nós também podemos escolher onde e como gastar nosso dinheiro. Valorizar empresas que respeitam o jogador e recusam modelos abusivos é uma maneira eficaz de sinalizar o que realmente importa.

No fim, conversar sobre o tema, informar outros jogadores e fazer escolhas conscientes é o que nos ajuda a manter os jogos como devem ser: uma experiência de prazer, não de compulsão.

Colaborador
Nerd desde antes de ser legal e cofundador do Musubi Podcast

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