Clair Obscure: Expedition 33 é uma jornada magnífica que merece ser vivenciada por qualquer amante dos videogames

É o milagre que a indústria precisava!

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Por Cauê Bonici

5/28/20256 min read

Se, anos atrás, me dissessem que em pleno ano de 2025 um RPG de turnos seria o jogo mais comentado do ano, eu desacreditaria. Mas também iria lamentar, pois esse foi o gênero que me fez amar videogames e alguns do melhores jogos da minha vida são JRPGs, porém, assim como toda a industria, me parecia que esse era um nicho que havia ficado no passado, a não ser quando surgissem jogos que contrariassem qualquer convenção, como foi o caso de Baldur´s Gate 3, um game que teve todo o tempo e todo o investimento necessário para traduzir a visão criativa do estúdio que o concebeu.

Eis que um desenvolvedor aborrecido de seu trabalho para um grande estúdio resolve realizar o projeto que havia criado anos antes, e que jamais seria aprovado por uma empresa que precisa prestar contas a acionistas e executivos e, por isso, prefere apostar apenas em franquias consolidadas que (quase sempre) são sinônimos de lucro, e então, esse projeto absolutamente independente começa a tomar forma.

As pessoas mais improváveis acabam se unindo nessa aposta e as estrelas se alinham para que esse time de, não por coincidência, 33 pessoas se reuna (na verdade são 32 pessoas e 1 cãozinho, o Monoco) e entregue uma das obras mais brilhantes dos últimos tempos, que, nesse momento, é simplesmente o jogo mais bem avaliado DO ANO pela crítica e o jogo mais bem avaliado DA HISTÓRIA pelo público.

Vou organizar essa análise ressaltando os tópicos que usamos como critérios aqui na Bonfire na ordem com que eles me impactaram durante a gameplay, portanto, o primeiro destaque vai para a trilha sonora de Expedition 33.

Antes mesmo de iniciar o jogo já somos recepcionados com o belo menu inicial que é embalado pela música-tema do game, chamada "Alícia" e que já se tornou um clássico dos videogames. A composição, a melodia, a interpretação e até a letra são belíssimas e extremamente originais, especialmente para quem não está habituado a canções francesas, como acredito que seja a maioria dos brasileiros.

E essa trilha sonora impecável segue embalando o game até o seu fim, com centenas de canções originais e absolutamente adequadas para cada personagem, cenário e/ou situação. E se adicionarmos a isso o fato de que o compositor foi encontrado através de seu trabalho divulgado nas redes sociais pessoais dele, tudo fica ainda mais impressionante.

A equipe completa da Sandfall Interactive

Já nos primeiros instantes do game já é possível ver o quanto a direção de arte foi certeira, já que os visuais e gráficos do game são belíssimos e se misturam com a proposta do jogo de maneira brilhante. Cada local visitado parece como um quadro pintado a mão, com cores e elementos que contam uma história por si só e, para além disso, temos os efeitos visuais, HUD e menus que seguem essa premissa artística que fazem de Clair Obscure: Expedition 33 um dos jogos mais belos já feitos até hoje e um exemplo de como tudo pode (e deve) ser integrado dentro da proposta visual.

A misteriosa Alícia

O terceiro impacto que tive, ainda na primeira hora de jogo foi em relação a história do game e seus personagens. Eu já tinha uma boa noção da premissa do game, mas não esperava que iria me afeiçoar tão rapidamente a personagens secundários e até a NPCs pouco importantes. O início de Expedition 33 é tão bem feito que te faz querer explorar cada centímetro de Lumiére e conversar com cada habitante da cidade. E é através desses diálogos que compreendemos os anseios, dilemas e dramas daqueles personagens, e esses primeiros instantes já me fizeram refletir sobre como seria um mundo em que praticamente todas as pessoas são orfãs e aqueles que são os mais experientes não passam de adultos com seus trinta e poucos anos, e ainda sob a pressão de tentar evitar o extermínio de todas as futuras gerações, ao mesmo tempo que tentam viver uma vida minimamente comum, já que as despedidas são parte recorrente daquele universo.

A versão fantástica de Paris, chamada Lumiére

E nesse vislumbre de tudo que está por vir, enquanto os protagonistas se preparam para a partida da Expedição 33, é que temos o primeiro contato com o combate do game. Confesso que eu temia pela dificuldade de Expedition 33, pois já sabia que havia a possibilidade de esquivar ou defender absolutamente todos os ataques de todos os inimigos, e isso me fez imaginar que o jogo poderia ser fácil demais e, como sou um apaixonado pelos desafios nos games, tinha a preocupação de que isso estragasse a minha experiência. Felizmente, eu não poderia estar mais equivocado.

Já nas primeiras batalhas é possível perceber de que evitar os ataques inimigos é absolutamente necessário e que isso não é nada fácil de se fazer. O timing das esquivas e aparadas é muito restrito, exigindo uma enorme precisão e o game pune consideravelmente o jogador que não investir em aperfeiçoar suas habilidades defensivas, entretanto, esse sistema é muito inteligente, pois ao mesmo tempo que torna o game muito mais palatável para quem não gosta de RPGs de turno ele também é absolutamente satisfatório de se executar e muito recompensador. Existem poucas sensações em um game mais satisfatórias do que acertar uma sequência de aparadas e assistir os três membros do grupo de combate executando um contra-ataque.

Lune e Gustave

E o que foi muito satisfatório de perceber é que tudo que pode ser visto na primeira hora de jogo e que inevitavelmente impressiona é apenas uma pitada do que o jogo entrega. A introdução do game cativa o jogador ao inserí-lo naquele universo, mas tudo que vem depois é de uma qualidade que se vê com raridade.

O mundo é vasto, belo e te convida a explorar, por guardar segredos e recompensas valiosas. Os personagens são envolventes, com motivações e conflitos muito sérios, além de não esconderem suas falhas, o que os torna muito mais críveis. As criaturas são fantásticas, sejam aliados ou inimigos. A história, cheia de reviravoltas, deixar o jogador imerso e reflexivo e tudo isso é ambientado por cenários incríveis e uma trilha sonora impecável.

Isso tudo já seria o bastante para me fazer amar Expedition 33, mas existem acontecimentos no game que se assemelham de maneira assustadora com a minha própria história pessoal. Coincidencias que tornaram a minha experiência particular tão profunda que fez com que eu criasse conexões com o jogo que jamais poderia ou poderei criar com qualquer outro.

Não vou revelar quais são essas conexões para preservar quem lê esse review de spoilers gigantescos da história, mas em produzi uma review em meu canal particular e você pode conferir o vídeo clicando aqui.

Encerro esse review com um sentimento que não vai se repetir muitas vezes na vida de nenhum jogador, que é a sensação de ter vivido uma das melhores experiências da minha vida enquanto gamer, e espero que essas palavras possam ter transmitido a você o tamanho da minha admiração por Clair Obscure: Expedition 33.

🔥🔥🔥🔥🔥 (5/5)

Clair Obscure: Expedition 33 estará disponível para PlayStation 5, PC e Xbox Series X|S (incluso na assinatura Ultimate do Xbox GamePass).

O combate é inexplicavelmente satisfatória em Clair Obscure: Expedition 33