Review
2025 tem sido um ano estranho para os videogames, no melhor sentido possível.
Estamos em vias de ver uma lista dos melhores jogos do ano pela The Game Awards que deve contar, na maior parte, com jogos que passam longe da faixa de 70 dólares, podemos ver um RPG de turno (Expedition 33) se sagrar jogo do ano, assim como um ilustre desconhecido (Arc Raiders) se tornar o jogo mais popular de 2025.
E é nesse cenário que me deparei com ABSOLUM, game que passou ABSOLUtamente despercebido por mim durante todo seu período de divulgação e tomei conhecimento de sua existência apenas quando já havia sido lançado, o que aconteceu no dia 09.10.
A premissa parece tão óbvia e genial que levantou a questão: “como ninguém nunca havia pensado nisso antes?”
Trata-se de um beat ‘em’ up na sua essência, ou seja, um jogo de andar pelas fases lateralmente e trocar socos com os inimigos, um gênero extremamente popular nos anos 90, mas que não tem grandes lançamentos nas últimas décadas. Os maiores expoentes desse estilo de jogo talvez sejam: Streets Of Rage, Double Dragon, Captain Comando, Cadillac´s and Dinossaurs, Tartarugas Ninja e Final Fight, porém, não era incomum encontrar jogos assim de personagens famosos de outras mídias, como Homem-Aranha, Batman e outros heróis.

Eu tive grandes momentos com todos esses games citados, mas nenhum chegava perto dos títulos da franquia Dungeons and Dragons (Tower Of Doom e Shadow Over Mystara), por diversas razões: temática de fantasia medieval, diversidade de personagens, variedade de gameplay, visuais, trilha sonora e, principalmente, os diversos segredos que faziam com que as partidas fossem bastante imprevisíveis.
E arrisco dizer que esses games talvez sejam as maiores inspirações para ABSOLUM, que entrega tudo isso que me fizeram ficar encantado nos fliperamas dos anos 90 e com um diferencial que eleva a experiência a outro patamar: o fato de não ser apenas um beat ‘em’ up, mas também um roguelike.
E é aqui que reside a genialidade de ABSOLUM, pois a essência de um beat ‘em’ up clássico é mesmo a de você morrer repetidas vezes, em razão da dificuldade muito elevada, o que era uma estratégia comercial da época dos fliperamas para obrigar os jogadores a comprar diversas fichas e seguir jogando até finalizar o jogo, mesmo que isso acabasse custando uma fortuna para o pobre moleque apaixonado por videogames.

Ao adicionar o elemento do roguelike a essa equação, ABSOLUM torna essas derrotas em parte do processo de aprendizado de como o jogo funciona e em como o jogador pode evoluir para ir mais longe na próxima tentativa, a depender da sorte, mas também da sua habilidade.
Na prática, ABSOLUM conta com 4 personagens jogáveis, sendo 2 iniciais e outros 2 desbloqueáveis. Cada qual com sua personalidade e estilo de jogo.
Galandra é uma elfa-drow e a personagem mais equilibrada, faz tudo muito bem, mas não é especialista em nenhum estilo de jogo.
Karl é um anão furioso que performa excelentemente bem em combates corpo a corpo e terrestres.
Cider é a personagem mais misteriosa (e provavelmente mais estilosa), possui uma variedade de gadgets e é capaz de combos intermináveis e muito eficiente no combate aéreo.
E Brome, um mago de uma raça de sapos, tem recursos poderosos e funciona muito bem em um combate mais defensivo e de longa distância.
A primeira impressão é que estamos diante de um jogo curto e de pouca variedade, mas a equipe da DOTEMU fez um trabalho tão impressionante que ABSOLUtamente tudo no jogo funciona de maneira magistral e você pode dedicar dezenas de horas ao mesmo personagem sem repetir a mesma build uma vez sequer.
O personagem começa apenas com seus movimentos básicos, sendo capaz de executar combos simples e um ataque especial, mas já no início poderemos escolher uma habilidade chamada Arcana, que consome recursos, mas que é muito mais poderosa e permite uma expansão da futura build.
Menos de um minuto depois, já poderemos estar causando danos de água, eletricidade, fogo, vento, gerando recursos, invocando esqueletos, manipulando o tempo, debuffando inimigos, entre várias outras possibilidades de efeitos e a partir disso, o jogador depende da sua capacidade de compreensão do jogo e da sorte para montar as mais absurdas builds possíveis.
Para expandir ainda mais, existem dezenas de itens coletáveis que adicionam efeitos extras e outros bônus para intensificar o estilo de jogo adotado. É uma sequência de tentativa e erro extremamente divertida.
E para deixar tudo ainda melhor, o sistema de combate também é muito bem feito, com claríssimas inspirações em jogos de luta, com pontuação (e benefícios) pela execução de combos mais longos, e até referências aos clássicos fighting games (qualquer um que vê a Cider agarrando um inimigo, o rodando envolta de si e o arremessando na sequência lembra imediatamente do Homem-Aranha fazendo o exato mesmo movimento em Marvel vs Capcom). Essa abordagem faz com que o jogador precise pensar muito bem em como vai aproveitar os recursos dos personagens para tirar o melhor proveito da própria build. Só esmagar botões não é o suficiente para conseguir avançar, isso porque o jogo também conta com um sistema de parry muito particular, em que você precisa dar um dash em direção ao inimigo ou executar um ataque especial num timing muito específico para evitar o ataque. Ou seja, ABSOLUM é um game que faz com que o jogador tenha que fazer escolhas o tempo todo, seja na build que se está montando, nos caminhos que se vai trilhar e a todo momento no combate, é ABSOLUtamente frenético.
Some isso a gráficos belíssimos em um estilo artístico muito original para um game, uma trilha sonora que vai competir com Expedition 33 como a melhor do ano (com chances reais de vitória), um mapa extenso e variado, com diferentes caminhos pra seguir, segredos pra explorar e quests para concluir, NPCs extremamente carismáticos e que adicionam muitas camadas ao jogo e você tem simplesmente um jogo que parece muito familiar, mas que na real é a nova referência de um gênero que vem ganhando força novamente (com Streets Of Rage 4 (da mesma DOTEMU), Marvel Cosmic Invasion, novo Tartarugas Ninja, entre outros).
Não poderia finalizar esse review sem destacar o fator multiplayer, que tinha que ser excelente para o sucesso do jogo, funcionando perfeitamente tanto localmente quanto online e destaque especial para a tradução e localização do jogo em PT-BR, fazendo uso de nomes, memes e expressões totalmente adequadas ao nosso vocabulário. E se não ficou claro até aqui, o fator replay do game é excepcional, inclusive contando ate com endgame, algo que certamente surpreendeu muita gente.
Não há nada que me faria não recomendar ABSOLUM a qualquer pessoa que goste de games, pois ele me parece tão acessível e divertido que me faz acreditar que qualquer um o iria gostar.
A única coisa que lamento é que essa pérola pode acabar passando despercebida por muitos em razão da excelente oferta de jogos indies lançados esse ano, mas garanto que esse título será inesquecível para quem o der uma chance!
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