Game exige precisão absurda, frustra com frequência, mas entrega uma jornada memorável e sem excessos.
É fácil olhar para Ori and the Blind Forest e achar que é só mais um indie “bonitinho”. A arte parece saída de um quadro pintado a mão, a trilha sonora é impecável e a história começa com uma sequência triste, principalmente se você gosta de gatos.
O game é um metroidvania com foco total em plataforma de precisão. O Ori, protagonista, não é um guerreiro ou um herói tradicional, na verdade ele é um espírito que vai ganhando habilidades aos poucos, sempre com muito backtracking(revisitar áreas) e exploração. Só que o destaque aqui não é o mapa nem os upgrades, mas sim o controle fino e a fluidez com que você se move. O Ori responde na hora, cada salto e impulso é milimetricamente calibrado, e é isso que faz o jogo funcionar mesmo quando ele quer te destruir. Sim, ele fica difícil em alguns momentos.
O mundo é lindo, até demais

A arte do jogo é pintada à mão e parece coisa de estúdio de animação. A floresta de Nibel pulsa, vive, respira. As luzes são suaves, tem brilhos, partículas, tudo muito bem trabalhado. E é aí que entra o primeiro problema real do jogo: tem horas que é bonito demais para o próprio bem.
A paleta de cores às vezes exagera nos tons parecidos, especialmente em áreas azuladas ou roxas, o que dificulta saber o que é plataforma, o que é obstáculo, o que é plano de fundo. Em um jogo onde a precisão é tudo, isso atrapalha. Você morre porque não enxergou um espinho ou porque não viu que dava para pisar em um galho escondido pela iluminação.

No meio da pancadaria uma confusão visual recorrente que acontece é quando você mata um inimigo, ele solta orbes de XP, só que elas têm exatamente a mesma cor e o mesmo brilho do projétil de alguns inimigos. O resultado disso é que inúmeras vezes você foge do seu próprio XP achando que é um ataque, ou pior, corre pra cima do inimigo achando que está indo pegar XP e acaba tomando dano.
Golpe é o rei

No começo, o Ori parece bem limitado. Anda, pula, escala. Mas à medida que a jornada avança, ele vai desbloqueando poderes que mudam completamente a forma como você navega pelo mundo. Tem o pulo na parede, o pulo duplo, o planador… mas o destaque absoluto é o golpe. Com esse poder, você pode “se lançar” em qualquer inimigo, projétil ou objeto, redirecionando tanto ele quanto Ori, um vai para um lado e o outro para o lado oposto.
Isso não só serve pra combate e puzzle, mas vira um tipo de dança aérea, quase um ballet de precisão e improviso. Eu não me lembro de ter jogado outro jogo que fizesse isso. E mesmo quando você morre, o que vai acontecer bastante, é difícil culpar o jogo. O controle é tão bom que o erro quase sempre é seu.
Controles afiados, mas nem sempre claros

Apesar da resposta rápida dos comandos, tem gente que se frustra com erros que parecem pequenos, mas custam caro. O pisão no chão, por exemplo, é ativado ao segurar pra baixo e apertar pulo. Só que se você estiver tentando alinhar Ori numa plataforma apertada e segurar levemente o direcional pra baixo, o jogo entende como comando de pisão e você se joga direto no espinho sem querer. E aí já era. Isso acontece mais do que deveria.
Tem também o golpe em momentos de caos, onde você tenta mirar num projétil mas acaba colidindo com o inimigo porque errou o tempo. O problema não é o controle em si, mas a margem de erro mínima combinada com comandos que se sobrepõem. O jogo exige perfeição em um sistema onde é fácil apertar o botão certo na hora errada.
A dificuldade é real

Quem entra achando que Ori é um jogo leve, só pela estética, vai tomar um susto. As gameplays de fuga, por exemplo, são brutais. Não existe checkpoint nessas partes, você não pode errar. Você tem que decorar a sequência e executar tudo com perfeição.
Além disso, o sistema de salvamento manual exige que você crie seu próprio checkpoint usando energia, a mesma energia que você usa pra atacar. Esqueceu de salvar? Azar o seu. Morreu? Volta outra vez. Às vezes, você não percebe que não tem energia suficiente pra salvar e só se dá conta quando já tá cercado de inimigos ou no meio de uma sequência longa. Eu odiei e gostei disso ao mesmo tempo. Faz sentido?
Mas e o combate?

Um ponto baixo do game é o combate. Ori não bate nos inimigos diretamente. Ele usa uma espécie de luz flutuante que dispara sozinha. Você só precisa ficar perto e torcer pra ela acertar. Isso torna o combate pouco envolvente e sem ritmo. É um jogo de plataforma com elementos de combate, não o contrário. Não espere chefes gigantes ou batalhas memoráveis, o que vai te matar mais é o ambiente, não os inimigos.
História simples, mas impactante

A narrativa do game é minimalista, mas funciona. Joga no seguro. Ori é separado da Árvore do Espírito, é criado pelo Naru, que morre tentando manter ele vivo, e aí começa a jornada. Tudo se desenrola de forma simbólica, sem muitas falas, com foco no emocional. A vilã, a coruja Kuro, também tem sua dor, e quando você entende as motivações dela, o final muda de tom, mesmo sendo clichê.
Veredito
Ori and the Blind Forest é um dos melhores jogos de plataforma que eu já joguei, não por ser “bonito”, mas sim porque te desafia de verdade. O game é bonito, mas exige uma precisão as vezes absurda. É difícil, mas justo (na maior parte do tempo). Só não é perfeito. A direção de arte é fenomenal, o combate é raso, o sistema de salvamento pode irritar e os controles, por mais responsivos que sejam, podem te levar a erros acidentais que vão te custar caro.
Mesmo assim, você vai encontrar um jogo que entrega controle fino, momentos memoráveis e uma jornada que realmente vale a pena. O game não tenta ser mais do que é. Não tem diálogo forçado, não tem roteiro floreado, não tem boss inchado para parecer importante. Ele te desafia, te emociona, e te deixa sair com a sensação de que valeu cada queda, cada tentativa.
Depois da última missão e da precisão absurda que ela exige, você vai terminar o jogo amando odiar o quão preciso ele te obriga a ser.
Nota: 🔥🔥🔥🧯🧯







