Final do ano chegando e foi dada a largada para a temporada de premiações no mundo dos games. No dia 20 de novembro, ocorreu o primeiro grande prêmio da indústria, o Golden Joystick Awards, onde os vencedores são escolhidos pela comunidade, diferentemente do Game Awards, onde os vencedores são escolhidos por um júri composto por jornalistas em todo o mundo e apenas 10% dos votos são do público. Entre os vencedores das diversas categorias muito bem divididas do evento, tivemos Clair Obscur Expedition 33, dominando o evento com 7 joysticks, Donkey Kong Bananza, Ghost of Yotei, Hollow Knight Silksong, entre outros. Muitos desses já estão indicados entre as diversas categorias do Video Game Awards, que acontecerá no dia 11 de dezembro.
Não é surpresa pra ninguém que 2025 está sendo um ano absurdo para o mundo dos games. Mês a mês, foram sendo lançados, de forma consistente, vários jogos com boas avaliações da mídia e do público. Em retrospecto, o único ano que me vem à mente, com uma consistência comparável a 2025, é o ano de 2018. Neste ano, tivemos concorrendo ao título de melhor jogo do ano: God of War, Red Dead Redemption 2, Assassins Creed Odyssey, Spider-Man, Monster Hunter World e Celeste, sendo esse último o único feito por um estúdio indie entre os indicados nessa categoria. E isso foi se mantendo durante os anos seguintes, tendo ano em que nenhum indie foi sequer indicado nessa categoria até o ano atual.

Esse ano, temos Clair Obscure Expedition 33, Hades 2, Hollow Knight Silksong, Kingdom Come Deliverance 2, Donkey Kong Bananza e Death Stranding 2, sendo apenas os dois últimos produzidos por grandes empresas (deixando claro que estou falando exclusivamente de produtoras e como elas se identificam para o público). E sabem o que TODOS esses jogos têm em comum? Eles entregam uma experiência COMPLETA.
Veja, nos últimos anos, tivemos várias polêmicas envolvendo microtransações, live service, DLCs etc. Empresas grandes que costumavam encabeçar essas premiações hoje em dia nem aparecem (ou mal aparecem) nas categorias mais nichadas de seus carros-chefes. A Bethesda, vencedora de vários “jogo do ano” com a franquia Elder Scrolls, mal teve o seu último jogo, Starfield, indicado a “melhor RPG”. A Bioware, conhecida por criar RPGs imersivos e ricos em relações interpessoais de seus personagens, perdeu completamente sua identidade no decorrer dos anos e Veilguard nem indicado foi para “melhor RPG”. É muito claro que toda essa decadência é fruto de uma ganância corporativista desenfreada que busca a todo custo obter lucro em detrimento da qualidade de seus produtos.

Eu não estou entrando no mérito de Starfield e Veilguard serem jogos bons ou ruins, até porque eu gosto deles, mas premiações são, acima de tudo, marketing. São eventos para vender jogos para um público ou uma mensagem clara de como a mídia quer (ou gostaria que) a indústria se comportasse. Obviamente, eu não estou ignorando a qualidade dos vencedores ou possíveis vencedores desses prêmios. Longe de mim! Mas esse ano, pra mim, é bem clara a mensagem de que “Estamos cansados de jogos com experiências incompletas!”. E isso se reflete em todos os indicados.
Clair Obscur entrega uma história coesa, bem escrita, madura e um loop de gameplay divertido e envolvente, além de diversas atividades extras, com side quests, minigames e skins alternativas. Hades 2 e Silksong entregam uma história completa, com mecânicas desafiadoras e bastante conteúdo. O mesmo vale pra Bananza, Death Stranding e Kingdom Come Deliverance 2. Apesar deste último contar com algumas DLCs, percebe-se que são verdadeiros complementos e não conteúdo cortado do jogo original. Todos os jogos indicados são livres de microtransação ou algo do tipo.
E isso também vale para vários outros jogos que estão indicados em outras categorias, como Ghost of Yotei, Blue Prince, Megabonk, Split Fiction e diversos outros. Por mais que todos saibamos que o dinheiro mora nos live services, a mensagem que fica é: “Entreguem mais e mais jogos completos, nós apoiaremos”. A impressão que fica é de que é preciso uma liberdade criativa que só produtoras indies (e pouquíssimas produtoras AAA) têm, pois elementos como monetização, conteúdo e game design são pensados e concebidos nos estágios iniciais desses projetos. Sem o dedo de engravatados que só visam o lucro, fica mais fácil tomar essas escolhas sem perder a essência e o foco no jogador.

Apesar do meu GOTY pessoal (Split Fiction) não ter sido nem indicado ao “melhor do ano”, sinto que, a essa altura, todos nós já ganhamos. Algumas empresas grandes já perceberam e estão mudando aos poucos seus hábitos mais agressivos (Ubisoft lançando expansão gratuita para Assassins Creed Mirage e uma atualização, também gratuita, para Avatar), mas isso é um problema estrutural que vai levar tempo para ser mais significativo. No mais, acredito que bons tempos virão. (Eu espero!).

